Quanto pesa a vida de um sírio na nossa consciência? | 5MIN #161 | 18FEV23

Maria Lúcia Ferreira é religiosa, portuguesa, pertence à congregação das Monjas de Unidade de Antioquia, e vive em Qara, num mosteiro, o mosteiro de São Tiago Mutilado.
Nos últimos dias, ela tem estado incansável, enviando mensagens, enviado fotografias, fazendo apelos. Não é para menos.
A Síria, tal como a Turquia, foram atingidas por um devastador sismo na madrugada de 6 de Fevereiro e desde então o número de vítimas não tem parado de crescer. Já ultrapassa as 33 mil, nos dois países.
Mas a irmã Maria Ferreira, que é mais conhecida como Irmã Myri, está desconsolada. Não apenas por causa do evidente sentimento de impotência de quem assiste a uma tragédia assim e percebe que pouco pode fazer.
No terreno estão equipas de salvamento, estão bombeiros, estão voluntários mas nada de comparável com a azáfama que se viu, que se vê na Turquia. E a irmã queixa-se disso.
Há vítimas dos dois lados da fronteira mas mesmo numa situação assim, de calamidade natural parece que o mundo tem dois pesos e duas medidas.
A irmã queixa-se e revolta-se. Não é justo. Não é justo o mundo não ter acorrido com todos os meios para as zonas mais atingidas pelo terramoto na Síria.
Pela falta de meios de salvamento, quantas pessoas perderam a vida e que poderiam ser salvas? Ninguém sabe, mas fica uma sensação terrível de angústia.
E a irmã verbaliza-o. Aliás, se há alguém que tem procurado denunciar ao mundo a tragédia que se vive na Síria, que já se vivia mesmo antes do terramoto, é ela.
Muitas vezes através da Fundação AIS, a irmã Myri tem procurado alertar o mundo para a vida cada vez mais difícil que os sírios enfrentam no dia a dia.
Falta quase tudo na Síria, a começar nos combustíveis, essenciais para as famílias sobreviveram ao frio muito intenso do Inverno, passando pela electricidade, que às vezes só aparece uma ou duas horas por dia, e acabando na comida, cada vez mais cara, cada vez mais difícil de adquirir. A irmã diz que falta já o pão na mesa de muitas famílias, mas parece que ninguém quer escutar o que ela diz, parece que ninguém quer saber das dificuldades deste povo.
E que difícil tem sido a vida dos sírios… Depois de mais de 10 anos de guerra, depois das consequências brutais a nível económico das sanções impostas pelo Ocidente, depois da pandemia do coronavírus, veio agora um terramoto avassalador.
Será que o mundo vai despertar para o drama que se está a viver na Síria? Quantos terramotos serão precisos, quantas mais pessoas terão de morrer, para que se perceba a real dimensão da tragédia que está a atingir este país? Quanto pesa a vida de um sírio na nossa consciência?
Paulo Aido

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