“Nada faríamos sem a Fundação AIS” | HS #491 | 18MAR24

A fila é grande. São homens e mulheres a quem, por vezes, já se perdeu a idade. São pessoas com olhares gastos, com vidas duras. Muitos são sem-abrigo, outros, tendo casa, nada têm para comer. O irmão Bernard é um destes homens consagrados que assumiram a missão de olhar pelos últimos da sociedade. A fila à porta da casa amarela dos Irmãos Albertinos em Lviv é sempre grande. Mas desde que a guerra começou na Ucrânia, com a invasão das tropas russas em 24 de Fevereiro de 2020, tem aumentado o número dos que procuram ali sossegar o estômago nem que seja apenas com uma sopa e um naco de pão. No Inverno, quando as temperaturas ficam escandalosamente muitos graus abaixo de zero, parece que se acentuam ainda mais os sinais que identificam os pobres e os indigentes de Lviv. O frio empobrece as pessoas. É por isso que lá dentro da casa dos Irmãos Albertinos o vapor quente da panela da sopa ou o aroma do café parecem, para quem está cá fora na fila, uma verdadeira promessa de banquete. O irmão Bernard conhece a maior parte dos que acorrem ao abrigo desta congregação. Ele próprio diz que eles “são como uma equipa de emergência, de primeiros-socorros”. Apesar disso, apesar de estar ali há anos a fazer todos os dias quase sempre os mesmos gestos, a distribuir comida, a sossegar a fome, o seu olhar ainda se comove com a miséria, com os que não têm nada, com os que vivem na maior indigência. Esses, que são os últimos da sociedade, são a razão de ser destes irmãos. É para eles que trabalham, que se levantam todos os dias, é para eles que mobilizam boas-vontades para terem sempre pelo menos uma panela a fumegar ao lume. É para eles que vivem. A maior parte dos que fazem fila à porta da casa amarela dos Irmãos Albertinos em Lviv são alcoólicos, sem-abrigo, têm problemas de drogas ou de jogo ou fugiram da guerra. Todos sabem que ali são acolhidos. Que são bem acolhidos. Por ali, sempre que se escutam as sirenes que anunciam bombardeamentos, que avisam da queda de mísseis, todas as pessoas ficam desassossegadas. As sirenes são um som maldito bem diferente do badalar do sino que algum dos irmãos toca quando avisa que a comida está na mesa. É o banquete dos pobres. Sopa quente, café e pão. “Nada faríamos sem a Fundação AIS. Sem vós, não existiríamos”, diz o irmão Bernard que é a alma da casa amarela onde ninguém fica de fora, onde todos têm lugar à mesa.

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