O ano de 2022 chegou ao fim com a notícia de mais um ataque em Moçambique. Duas aldeias estiveram na mira dos terroristas, mas há um pormenor que não pode passar despercebido.
O ataque ocorreu no dia 30 de Dezembro a duas aldeias no distrito de Muidumbe, Houve casas queimadas, pessoas mortas, até uma troca de tiros com uma força local de defesa, algo que começa agora a ser comum na região de Cabo Delgado.
De facto, face à impossibilidade de as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique patrulharem todas a vasta região de Cabo Delgado, onde os terroristas têm actuado principalmente, têm surgido grupos de locais, por vezes antigos membros da Renamo [Resistência Nacional Moçambicana], que passaram a assumir a própria defesa das casas e das populações.
Tudo isto é já infelizmente, comum. O pormenor a que me refiro é a publicação nas redes sociais, pelos terroristas, que reclamam pertencer ao ISIS, ou seja, ao grupo jihadista Estado Islâmico, que o ataque foi a aldeias cristãs e que o combate que ocorreu foi com milícias cristãs.
Não basta trazerem violência, destruição e morte para Moçambique. Estes terroristas procuram também transformar o país num espaço de confronto entre religiões que por ali sempre se deram bem, sempre se respeitaram mutuamente.
Não podemos ser inocentes ao verificar este tipo de propaganda. Aos poucos, os jihadistas de Moçambique querem chamar a atenção do mundo para o seu reino de terror e já terão compreendido que uma das formas mais eficazes para o conseguirem é tentando atingir a comunidade cristã.
Em Setembro, atacaram a missão católica em Chipene, já na diocese de Nacala e assassinaram a tiro uma religiosa italiana de 83 anos de idade, a irmã Maria de Coppi. Agora, três meses depois, entram aos tiros em duas aldeias maioritariamente cristãs no distrito de Muidumbe, Diocese de Pemba, em Cabo Delgado.
Infelizmente, o ano de 2023 começa com maus auspícios em Moçambique. É preciso que o mundo não se esqueça das muitas guerras que atormentam a humanidade. A guerra na Ucrânia está muito perto de nós e enche todos os dias muitos minutos dos telejornais. Mas há muitas balas a serem disparadas noutros campos de batalha, noutros países e noutros continentes. Há muita gente em sofrimento e não podemos fingir que não escutamos os seus gritos de dor, os seus gritos de socorro.
Paulo Aido