Compaixão pelo povo sírio | 5MIN #206 | 31DEZ23

“Perdoar significa dar lugar no coração a Deus”, diz D. Jacques Mourad, sobre o tempo em que esteve em cativeiro.
Para muitos, o Arcebispo católico de Homs será sempre o padre Mourad, que em 2015 foi sequestrado na Síria e mantido em cativeiro durante vários meses por jihadistas do autoproclamado Estado Islâmico.
A memória desse tempo, a necessidade de perdoar, a compaixão que sentiu pelos próprios sequestradores, foram recordados agora pelo Bispo que continua a ser um monge numa entrevista que concedeu por estes dias à Fundação AIS.
É uma conversa memorável. A sua voz é importante, respeitada, ouvida. Jacques Mourad tem palavras de perdão, mas também de alerta para a situação trágica em que se encontra a Síria, a sua amada Síria que caminha para o colapso, para a miséria.
Há milhões de sírios que já não sabem o que fazer para dar um naco de pão aos seus filhos, há milhões de sírios que desesperam num país que está encurralado entre a guerra que persiste há 12 longos anos, e as sanções impostas ao regime de Damasco que só empobrecem mais e mais as pessoas comuns.
Jacques Mourad sabe do que fala quando pede a nossa solidariedade para a Síria. Ele sabe que há populações inteiras que dependem da ajuda que se fizer chegar a este país.
Ele conhece as casas que vão estar geladas neste Inverno, ele sabe de cor os lamentos das mães que não conseguem sossegar o choro dos seus filhos, ele sabe o que significa o desespero dos que partem, dos que abandonam o país por sentirem que ali já não têm futuro.
Ele sabe tudo isto e pede-nos ajuda.
O homem que esteve em cativeiro durante vários meses, o homem que foi raptado por jihadistas, o homem que nunca virou as costas ao seu povo, conta-nos, nesta entrevista à Fundação AIS, que durante o tempo de cativeiro aprendeu a abandonar-se na confiança de Deus. Abandonar-se na confiança de Deus.
É essa certeza que o leva agora a inquietar-nos sobre a situação dramática em que se encontram os sírios. De cada vez que ele estava com um dos seus sequestradores não sentia raiva, nem ódio, nem medo. Apenas compaixão.
É só isso que precisamos de ter agora. Compaixão pelo povo sírio. É só isso que nos pede Jacques Mourad, o monge, o arcebispo católico de Homs.
Paulo Aido