Aprender a perdoar | HS #485 | 03FEV24

Foi raptado a 21 de Maio de 2015 no mosteiro de Mar Elian, onde vivia. Levado por homens armados, jihadistas do Daesh, num dos momentos mais agudos da guerra na Síria, chegou a estar defronte de um pelotão de fuzilamento. Foram cinco meses de uma angústia que nunca mais irá esquecer, mas que o transformou. Desde então, sempre que recorda essa experiência, D. Jacques Mourad fala da urgência do perdão, da necessidade do abandono às mãos de Deus. O monge que foi ordenado em Março do ano passado Arcebispo sírio-católico de Homs, voltou agora, numa entrevista à Fundação AIS, a folhear os dias, as memórias que ficaram do cárcere e voltou a falar em compaixão. “Perdoar significa dar um lugar no nosso coração a Deus, para que Ele possa perdoar em nós. Como Jesus disse na Cruz: ‘Pai, perdoa-lhes!’. Cada vez que um terrorista entrava na casa de banho onde eu estava preso, sentia compaixão por ele. Embora também fosse confrontado com a raiva e outras emoções intensas, naquele momento não tinha tais sentimentos, apenas compaixão. Precisamos de muita humildade para aceitar que nós próprios não somos capazes de algo assim. Tudo o que somos capazes vem de Deus. Incluindo o perdão.” O Arcebispo Católico de Homs confessa mesmo, à Fundação AIS, o que de mais importante ficou dos longos cinco meses de cativeiro. “A coisa mais importante que aprendi naquele tempo foi abandonar-me com confiança nas mãos de Deus. Desde que ando com o Senhor, tenho rezado a oração de Charles de Foucauld todos os dias, e os cinco meses como refém deram-me a oportunidade de a viver de forma muito concreta”, explica.
O sequestro durou longos cinco meses. Foi em 2015. Desde então, a Síria continua sobressaltada pela violência, pela pobreza extrema. Dificilmente um país consegue libertar-se das consequências terríveis de uma guerra que persiste há mais de 12 anos. E depois, os sírios sofrem também com as sanções económicas impostas ao regime de Bashar al-Assad pelos Estados Unidos e União Europeia. O resultado é um sufoco completo. Para enfrentar tudo isto é necessária muita solidariedade. A sua longa experiência no contacto directo com as populações, com as famílias, o conhecimento que tem dos dramas dos sírios que enfrentam todos os dias o desafio da própria sobrevivência, empresta importância às suas palavras. “Não devemos apenas distribuir comida, mas também dar vida a vários projectos – escolas, música e arte, por exemplo – para que as pessoas sintam que têm o direito à vida. Esse tipo de ajuda pode ter o efeito de fazer as pessoas pararem de pensar em emigrar”, explica o Arcebispo. Sobre a ajuda que a Fundação AIS está a promover na Síria – que agradece muito e que agora ficou bem vincada na Campanha de Natal –, D. Jacques Mourad destaca vários projectos, nomeadamente o que envolve o auxílio à própria sobrevivência dos sacerdotes na Arquidiocese de Homs “com estipêndios de missa, a sua única fonte de rendimento”, e ainda o “papel essencial na cura dos traumas da guerra e dos problemas psicológicos decorrentes da instabilidade e da pobreza que assolam o país”. Para muitos, o arcebispo de Homs continua a ser apenas o padre Jacques Mourad, o monge que em 2015 foi sequestrado e mantido em cativeiro durante vários meses por jihadistas do autoproclamado Estado Islâmico. Ele é, mais do que tudo, um símbolo da urgência da paz na Síria. Uma paz que só acontecerá de verdade quando houver também uma verdadeira reconciliação. E para isso é tão importante saber perdoar…