Preços dos alimentos altíssimos, falhas constantes no fornecimento da electricidade, gás racionado. Poderíamos estar, infelizmente, a falar em muitos países do mundo. O Líbano, por exemplo, ou Ucrânia. Ou Venezuela, ou Cuba. Mas estamos a falar da Síria.
Sobreviver na Síria é uma tarefa cada vez mais difícil. O retrato chega-nos pela voz de uma religiosa portuguesa, a irmã Maria Lúcia Ferreira, que vive no Mosteiro de São Tiago Mutilado, na vila de Qara.
Numa mensagem enviada para Lisboa, para a Fundação AIS, esta religiosa, que é mais conhecida como “irmã Myri”, diz mesmo que este foi “certamente o pior Natal que todas as famílias já viveram na Síria desde o início da guerra”.
A guerra, de que ela fala, a brutal guerra na Síria, que arrasou cidades inteiras, que matou milhares e forçou milhões a fugir das suas terras, das suas casas, do próprio país, a guerra de que ela fala já começou há mais de uma década.
Nos últimos tempos até tem havido poucos incidentes. As armas e os canhões têm estado quase silenciados, mas, mesmo assim, a irmã fala de um Natal triste, de um Natal sem brilho, fala do pior Natal dos últimos anos.
A situação é tão grave, principalmente ao nível energético, que, diz a irmã, as escolas passaram a estar encerradas mais um dia por semana pois falta o “mazout”, ou seja, o óleo que é usado para o aquecimento das casas e sem isso não é possível receber os alunos, especialmente os mais pequenos.
Mas não só. Dando o exemplo da região de Qara, onde vivem as Monjas de Unidade de Antioquia, a irmã portuguesa diz que, agora, “só há electricidade uma hora por dia”, e que houve mesmo dias “sem nenhuma electricidade”. E se juntarmos isso ao racionamento do gás, a vida das famílias fica muito mais difícil, quase impossível.
E é preciso também lembrar que o Inverno na Síria é muito rigoroso. Sobreviver sem aquecimento é quase impossível. Também os combustíveis escasseiam e o preço da gasolina tornou-se proibitivo. E tudo isto num país – estamos a falar da Síria – que tem consideráveis reservas de gás natural e de petróleo… Mas a guerra inutilizou quase tudo. As refinarias foram destruídas, até as centrais de electricidade deixaram, em muitos casos, de funcionar e as sanções impostas ao regime de Bashar-al-Assad fizeram o resto.
A guerra até tem abrandado e muito nos últimos tempos. Mas o espectro da fome permanece bem real, bem presente, como uma ameaça concreta para a grande maioria da população.
Perante esta situação tão difícil em que se encontra a grande maioria da população síria, e muito particularmente a pequena comunidade cristã, a irmã Maria Lúcia Ferreira agradece toda a ajuda que a Fundação AIS tem vindo a dar a este país do Médio Oriente e pede as orações de todos para que o mundo olhe com atenção para este povo já martirizado por mais de 12 anos de guerra.
O pior que pode acontecer aos sírios, ao fim de todos estes anos de guerra, é que o país seja esquecido, que o sofrimento do povo seja ignorado, que o mundo volte as costas e finja não escutar os gritos, os lamentos das famílias que já mal conseguem ter pão na mesa.
A irmã maria Lúcia Ferreira pede-nos orações. Apenas isso. Tudo o mais parece estar a falhar…
Paulo Aido