5 minutos com a AIS #118

Não sei o que os terroristas pensavam dela, mas sei o que ela pensava deles. A irmã Glória Narvaez Argoti, uma freira franciscana colombiana, passou quatro anos e oito meses em cativeiro no Mali.
Foi libertada a 9 de Outubro do ano passado. Há umas semanas esteve em Madrid, a participar na Noite de testemunhos, um evento organizado pela Fundação AIS sobre a igreja perseguida no mundo.
O que ela disse, o que ela contou, ajuda a perceber a fibra desta mulher de aspecto frágil, por vezes com a voz um pouco trémula, mas que se soube agigantar, apesar do medo, durante o longo tempo em que esteve como prisioneira de um grupo de jihadistas no deserto em África.
Ela contou que foi insultada, chicoteada, que chegou a estar amarrada com correntes, que lhe cuspiram na cara, que a ameaçaram de morte. Todos as manhãs gritavam-lhe para ela renunciar ao cristianismo e para abraçar o Islão.
Dessa forma, diziam, veria aliviado o seu sofrimento. Todos os dias ela dizia-lhes que não.
Praticamente também todos os dias, ela escutava, no imenso silêncio do deserto, os gemidos de outros prisioneiros que estariam a ser torturados. Glória Narvaez Argoti viveu o tempo de cativeiro como quase se de um retiro se tratasse.
Rezava os salmos, rezava o terço juntando pedrinhas, aprendeu a contemplar ainda mais a natureza, o amigo sol, as amigas nuvens, o entardecer que avermelhava o céu, o canto dos pássaros, o andar vagaroso dos camelos…
Aprendeu o significado profundo do amor.
Todas as manhãs, disse ela em Madrid, no encontro promovido pela Fundação AIS, todas as manhãs rezava para que Deus convertesse o coração dos captores, que eles caíssem em si e percebessem o mal que estavam a causar a tantas pessoas.
Todas as manhãs, Glória Argoti rezava para que Deus não se esquecesse, na sua infinita misericórdia, dos seus raptores, dos seus algozes. Não sei, de facto, o que os terroristas pensavam da irmã Glória.
Provavelmente apenas a desprezavam por ser mulher, por ser cristã, por ser religiosa. Mas sei, com a certeza absoluta, que a irmã Glória aprendeu a amar os que lhe fizeram mal.
Paulo Aido

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