Faltam alimentos, medicamentos, leite, pão… esta não é uma lista de compras de quem vai ao supermercado, com receio de se esquecer de alguma coisa importante.
Esta é a realidade da esmagadora maioria das famílias libanesas. E aos alimentos, aos remédios, ao leite e pão, tem de se incluir também os combustíveis, a electricidade, numa lista sem fim que não pode ser aviada nas lojas pois estas estão cada vez mais com as prateiras vazias.
O Líbano é um país em crise. Em profunda crise. Já o disse aqui e, infelizmente, vou repeti-lo. Numa pequena mensagem enviada para a Fundação AIS, o Arcebispo da Diocese Maronita de Tiro descreve como esta profunda crise está a afectar de forma brutal o dia-a-dia das populações.
De tal forma que a Igreja pediu ajuda. Pediu ajuda para poder socorrer as pessoas que batem à porta das paróquias, das congregações, das dioceses. De dia para dia aumenta a pobreza. A crise económica e financeira paralisou o país. A inflacção consumiu o dinheiro que existia, as poupanças das famílias, remetendo-as para a quase indigência.
A situação é tão dramática que a Igreja está a acudir pessoas que, não há muito tempo, olhavam para a vida com alguma tranquilidade. Agora nem pão têm na mesa. Nem leite. Muito menos dinheiro para os medicamentos. A situação é de tal forma grave que a Igreja pediu ajuda à Fundação AIS.
A resposta, rápida, permitiu lançar de imediato uma operação que envolveu duas dezenas de paróquias e a aquisição de mais de quatro mil cabazes de ajuda de emergência.
Foram quatro mil famílias que se viram menos aflitas durante algum tempo. Mas a crise continua a espreitar, continua presente.
Os preços não param de subir e a economia está parada. A agravar a tragédia que está a atingir o Líbano, em Agosto de 2020, uma brutal explosão acidental devastou o porto de Beirute e alguns dos bairros cristãos da capital e deixou mais de 200 mortos e 6.500 feridos.
D. Charbel Abdallah, o Arcebispo Maronita de Tiro, agradeceu, na mensagem enviada para a Fundação AIS, a ajuda recebida. Ele fala em nome de uma comunidade que está a atravessar, talvez, a maior crise da sua história.
Calcula-se que cerca de metade da população libanesa está já abaixo da chamada linha de pobreza. Se nada acontecer, o Líbano caminha para o precipício.
Hoje em dia, é difícil encontrar quem não pense em emigrar, quem não pense em sair do país. De facto, muitos cristãos têm decidido fazer as malas pois receiam, face à degradação da situação económica, não poder garantir um ambiente de liberdade religiosa nem uma vida digna para as suas famílias.
Se nada se fizer em contrário, a presença cristã vai continuar inexoravelmente a esvaziar-se das terras bíblicas. Isso é trágico. Não encontro palavra mais adequada…
Paulo Aido