#6 | Ricardo Araújo Pereira

Conheci o Ricardo Araújo Pereira por volta de 2003, creio. Num encontro no S. Luiz chamado “É a Cultura, Estúpido” com o pessoal dos blogues todo lá. Os blogues eram uma sensação meio subterrânea – de cada vez que havia um pretexto para os bloggers se conhecerem, havia genuína excitação com algum espírito de auto-congratulação à mistura. Aproveitei para dizer ao Ricardo que o sketch “A Minha Vida Dava Um Filme Indiano”, que apareceu no “Perfeito Anormal”, era muito bom mesmo.

Em poucos anos, o Ricardo e os Gato Fedorento cresceram e tornaram-se as pessoas mais engraçadas do país, com um impacto só comparável ao do Herman José anos antes. Em particular o Ricardo, é provavelmente das pessoas mais merecidamente populares de Portugal. Eu, que “Odeio Artistas”, confesso que todos os excessos laudatórios me soam justificados para ele. Acho que é o maior artista português vivo, independentemente da piadinha fácil sobre a altura (que não pude evitar).

Na minha tese, o RAP é um artista inesperadamente protestante entre católicos. A obsessão pela palavra explica que, da piada ao texto, tudo se marque por uma paixão pelos mundos mais inesperados que existem quando o verbo vai à frente. A linguagem física é incrível mas o triunfo maior é o texto, colocado em jogo com uma exuberância muito rara.

Foi a primeira vez que me senti nervoso a gravar o podcast. Afinal, sendo muito fã e não tendo estado assim tantas vezes com o Ricardo, dei por mim a acusar pressão. Acho que se vai notar volta e meia que exagerei a tentar ser esperto e que não queria que a conversa acabasse, deslumbrado que estava. A grande razão para isso é que nos últimos anos os nossos miúdos descobriram o Gato Fedorento e, como eu, ficaram amarrados no Ricardo. Uma memória preciosa para mim é, quando estivemos nos Estados Unidos, assistirmos em família a alguns sketches no YouTube e chorarmos até às lágrimas. Esse choro era único porque se fazia de alegria e de tristeza por, estando longe de Portugal, nos desforrarmos lembrando que as palavras da nossa língua são o melhor país que alguma vez poderemos ter.

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