“Todas as capelas cristãs foram destruídas” diz Bispo de Pemba

Desde o início de Janeiro, a guerra atingiu a parte sul da província de Cabo Delgado. Nas últimas duas semanas, entraram pelo lado leste para o distrito de Chiúre, o mais populoso da Província de Cabo Delgado, com cerca de 300 mil habitantes, entre cristãos, muçulmanos e praticantes da religião tradicional africana.
A violência perpetrada neste distrito nas duas últimas semanas foi de tal forma que cerca de uma dezena de aldeias, algumas muito populosas, foram visadas, com destruição de habitações e instituições. Nessas aldeias, todas as capelas cristãs foram destruídas. O ponto mais alto até agora foi o ataque feito a Mazeze, onde os postos administrativos do distrito de Chiúre, com a destruição de tantas infraestruturas públicas e sociais do governo também ficaram destruídas assim como a nossa Missão, que dava muito apoio social ao povo da região.
Com tudo isso, iniciou-se o drama da fuga, um autêntico êxodo populacional. Fogem as populações das aldeias já reduzidas a cinzas, como fogem também as populações das aldeias que ora se veem postas ao risco de serem atacadas. Muitos fazem um caminho que só tem a certeza do ponto de partida. Vão em busca de um lugar seguro. Não sei onde o encontrarão… se calhar, o menos inseguro.
Neste momento, imensa multidão está aos grupos, amontoados pela sede do distrito de Chiúre, e outros atravessaram o Rio Lúrio pela ponte da estrada nacional número 1, na província de Nampula. São os que conseguiram caminhar, os que conseguem andar. Não tiveram a mesma sorte os que foram degolados e baleados.
Também a Tina, sobrinha do nosso funcionário da Cúria Diocesana. Esta apenas partiu com o bebé recém-nascido nos braços, mas não chegou. Entre o calor e a poeira, bebeu água que encontrou, ganhou diarreia e vómitos e sucumbiu. Ficou o bebezinho sem mãe, sem culpa e sem paz.
São tantos os rostos em êxodo, atónitos, tristes, com um sorriso de desespero. Carregam alguma trouxa na cabeça ou na única bicicleta familiar. É tudo o que agora lhes resta. Certamente não tarda que chegue a fome, a sede e as doenças.
O risco maior é de serem rostos esquecidos em função de outras guerras no mundo. Definitivamente não podemos ficar sem fazer nada.
A Diocese de Pemba pediu para que os missionários desses locais atacados, também eles, os missionários deslocados já, e os dos locais de acolhimento, que acompanhassem os vários trajectos do povo e comunicassem as suas necessidades.
No entanto, sem a generosidade e a partilha de todos não podemos ser úteis. Aproveito para agradecer profundamente a proximidade do Papa Francisco para com o povo de Moçambique e especialmente de Cabo Delgado, manifestada mais uma vez no Angelus de domingo passado. O seu pronunciamento foi, para nós, como um bálsamo, um alívio imediato, um afago e um conforto. Anuímos o seu convite de orarmos pelo fim das guerras no mundo inteiro.

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