“Senti uma grande faísca e depois um ‘boom’, tudo aconteceu do meu lado direito, a três ou quatro metros onde estava sentada.” Arlene Francisco, 48 anos, secretária do capelão e da comunidade católica universitária, recorda assim à Fundação AIS o que aconteceu no domingo, 3 de Dezembro, quando uma bomba deflagrou no ginásio da Universidade estatal de Mindanao, na cidade de Marawi, poucos minutos de ter começado a primeira Missa do Advento. Por sorte, Arlene escapou ilesa à explosão, tal como os seus 3 filhos, que, como acólitos, estavam na altura junto ao altar, mas algumas das pessoas que estavam perto de si não sobreviveram. O atentado terrorista, reivindicado pelo Daesh, o grupo jihadista Estado Islâmico, causaria quatro mortos e mais de 50 feridos, alguns em estado muito grave. Numa mensagem enviada para a Fundação AIS, em Lisboa, Arlene explica como tudo se passou. A missa tinha começado, pouco depois das 7 horas. Os fiéis preparavam-se para escutar a primeira leitura quando se deu a explosão. “Todos ficaram em choque. Vi 4 corpos caídos no chão, um estava completamente queimado, meu Deus… outra pessoa tinha metade do corpo queimado também e havia partes de pernas espalhadas… Foi realmente chocante.” Arlene sobreviveu ao atentado, mas, desde então, não consegue esquecer o que viu, os gritos que escutou, a tragédia que se abateu uma vez mais sobre a pequena comunidade cristã em Marawi. “Desde então, até agora, não consigo dormir bem e praticamente não consigo comer… por favor rezem por nós…”
O atentado deixou um rasto de inquietação na comunidade cristã local. Ao telefone, desde as Filipinas, o padre italiano Sebastiano D’Ambra expressava à Fundação AIS a sua consternação por este ataque. O missionário do Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras não teve dúvidas em afirmar que se tratou de um ataque contra os cristãos. E acrescentou: “O que aconteceu em Marawi é alarmante e pode provocar o êxodo da minoria católica. Muitas famílias já pediram aos seus filhos que regressassem à sua terra natal por causa do medo que os cristãos estão a sentir”. Com quase 40 anos de experiência nas Filipinas, o Padre D’Ambra é o fundador do movimento Silsilah, que promove desde 1984 o diálogo inter-religioso entre católicos e muçulmanos. A Fundação AIS é parceira deste projeto desde o seu início. “Episódios como este só pioram uma situação já complicada e tornam mais difícil a promoção do diálogo inter-religioso”, reconhece o padre D’Ambra.
As palavras de preocupação deste sacerdote têm razão de ser. É que se nas Filipinas a esmagadora maioria da população, cerca de 90 por cento, é católica, ali, na Ilha de Mindanao, ao sul do país, predomina a comunidade muçulmana e os cristãos estão em minoria. A Prelazia territorial de Marawi, a capital da província de Lanao del Sul, em Mindanao, tem apenas cerca de 40 mil fiéis. Todos têm sido testemunhas, ao longo dos últimos anos, da presença de grupos terroristas que desafiam as autoridades procurando a autonomia do território. Ninguém consegue esquecer, por exemplo, o brutal ataque terrorista em Marawi, em Maio de 2017, quando grupos fundamentalistas ligados ao Daesh conquistaram parte da cidade. A luta que se travou, durante cinco meses, com o exército filipino, provocou um autêntico banho de sangue com cerca de 1.200 mortos. Agora, houve de novo um ataque. Também por isso se percebe o desassossego nas palavras de Arlene, que nos pede, por favor, para rezarmos por eles…