Janada foi apenas uma das vítimas do Boko Haram, um grupo terrorista, temível, que quer implantar pela força um “califado” na região norte da Nigéria. Ela está agora a recuperar por todo o trauma por que passou durante os dias em que esteve em cativeiro após ter sido raptada. Foram seis dias que, descreve Janada à Fundação AIS, “pareceram seis anos” … Janada foi capturada há pouco mais de dois anos, no dia 9 de Novembro de 2020, quando ia a caminho de uma repartição governamental. “Levaram-me para o mato e torturaram-me severamente, emocional, física e mentalmente durante seis dias. Sofri muitas experiências terríveis e perversas – sem explicação – que fizeram com que esses seis dias parecessem seis anos”, diz. “A 15 de Novembro de 2020, fui libertada. Voltei e passei alguns dias com a minha mãe; depois ela trouxe-me para o Centro de Trauma, operado pela Diocese de Maiduguri.” É aí, no Centro, que Janada Marcus fala com a Fundação AIS e conta todo o calvário que tem sido a sua vida. Se os seis dias em cativeiro deixaram uma marca profunda na sua vida, houve outros episódios muito traumáticos que dificilmente alguma vez conseguirá superar na totalidade. Um deles ocorreu em Outubro de 2018, quando um grupo de terroristas apareceu nos arredores da cidade de Maiduguri, num pedaço de campo que a família cultivava e quiseram obrigar o pai de Janada a ter relações sexuais com a própria filha. A sua recusa valeu-lhe a morte imediata. Foi decapitado à frente de todos. Nesse dia, os terroristas não fizeram mais nada, mas iriam voltar a assombrar a vida de Janada dois anos mais tarde.
Esta jovem cristã está agora no Centro de Trauma da Diocese de Maiduguri. Trata-se de uma estrutura que foi erguida com o apoio da Fundação AIS para o tratamento psicológico e reabilitação das vítimas do terrorismo na Nigéria. Janada, entretanto, inscreveu-se na Universidade e espera vir a tornar-se num membro activo da sociedade. Para já, vai ganhando também algumas competências nomeadamente ao nível do artesanato e da costura. Mas o mais importante foi o que já conseguiu emocionalmente. “Aprendi a largar o meu passado; aprendi a arte de curar, largando a minha dor. A minha fé fortaleceu-se”, diz, embora tenha admitido que chegou a estar afastada de Deus, nos momentos de maior tribulação. Conseguiu reaproximar-se de Deus e até já conseguiu perdoar aos terroristas que a violentaram há dois anos. “É difícil perdoar e esquecer, e com tudo aquilo por que passei às mãos de Boko Haram nem consigo acreditar que sou eu que digo isto, mas perdoei-os no meu coração, e rezo pela redenção das suas almas.” A história de Janada é apenas um exemplo da tragédia que está a atingir a Nigéria. Além dos ataques de grupos jihadistas, de que se destaca o Boko Haram, os Cristãos deste país de África têm também enfrentado a violência dos pastores nómadas Fulani, e de grupos armados que raptam pessoas procurando extorquir às famílias o dinheiro do resgate. Por tudo isto, a Fundação AIS está a promover em Portugal durante a Quaresma uma grande campanha de apoio à Igreja na Nigéria. Sensibilizar a opinião pública para esta realidade, que é quase desconhecida, e ajudar a comunidade cristã é o grande objectivo desta iniciativa. Janada Marcus está agora a recuperar num centro construído com o apoio dos benfeitores da AIS. Infelizmente, há milhares de pessoas traumatizadas como ela e que precisam urgentemente de ajuda…