“O futuro não se constrói com a força violenta das armas, mas com a força suave da solidariedade”, disse o Papa Francisco em Setembro do ano passado, num encontro com um grupo de fiéis da Coreia do Sul, por ocasião da inauguração, no Vaticano, de uma estátua ao primeiro mártir coreano, André Kim Taegon.
Nesse encontro, e numa ocasião em que crescem sinais inquietantes de tensão militar naquela região do globo, o Papa lembrou a vida deste jovem que viveu em Macau e morreu decapitado aos 25 anos, e pediu a sua intercessão “para que se realize o sonho da paz na península coreana”.
Francisco lembrou que o jovem André Kim estudou teologia em Macau e durante esse tempo foi testemunha dos horrores das Guerras do Ópio. E que, nesse contexto de conflito, conseguiu ser semente de paz, levando todos ao encontro e ao diálogo. E disse ainda, lembrando a história de coragem não só de André Kim Taegon mas também da sua família, que “não se pode seguir Jesus, sem abraçar a Sua Cruz”.
O momento solene da inauguração da estátua do jovem coreano serviu para se ficar a conhecer um pouco mais sobre a sua história. E o Papa lembrou que não só André Kim morreu martirizado, mas também o seu pai e avô. E que a sua mãe chegou a ser obrigada a viver como mendiga. Exemplos de uma Igreja que, na Coreia, nasceu da coragem dos leigos e foi fecundada pelo sangue dos mártires.
A estátua do Santo André Kim Taegon, nasceu em 1821 e morreu em 1846, o primeiro sacerdote e mártir da Coreia, está agora num nicho do lado de fora da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Tem quatro metros de altura, pesa cerca de seis toneladas e foi esculpida em mármore.
À inauguração desta estátua assistiram dezenas de fiéis, que incluiu a celebração de uma Missa presidida pelo Cardeal Lazzaro Heung-sik You, que foi Bispo de Daejeon e é, actualmente, o prefeito do Dicastério para o Clero.
O cardeal recordou também que a Coreia do Norte é um dos países onde a prática religiosa é mais reprimida hoje em dia em todo o mundo. Meses antes, num encontro no Brasil com católicos oriundos da península coreana, este prelado já se tinha referido à “situação muito difícil” em que se encontram os Cristãos que vivem sob o domínio do regime de Pyongyang. O Cardeal disse, nessa ocasião, que na Coreia do Norte não há “bispos, nem sacerdotes”, e que isso é algo de “muito doloroso”. Há mais de 70 anos que é assim.
A Coreia do Norte é considerado como “o país mais isolado” do planeta e tem vindo a ser classificado sistematicamente no Relatório sobre a Liberdade Religiosa, da Fundação AIS, como tendo “um dos piores registos de direitos humanos” em todo o mundo.
No mais recente desses Relatórios, recorda-se o empenho pessoal do Papa Francisco no diálogo entre Pyongyang e Seul, dado que os dois países estão tecnicamente em guerra, pois apenas foi assinado um armistício após o conflito militar que decorreu entre os anos de 1950 e 1953.
Actualmente, embora vacantes, as três dioceses católicas da Coreia do Norte continuam instituídas à espera de um dia poderem ser retomadas.
Nesse dia, quando chegar, os Cristãos poderão celebrar, enfim, a coragem do Santo André Kim Taegon, decapitado no dia 16 de Setembro de 1846, aos 25 anos de idade, um santo que tem uma história ligada também a Portugal.
Nascido em 1821 numa família de cristãos convertidos, André foi baptizado aos 15 anos e estudou no seminário de São José, em Macau. Durante cerca de seis anos, o jovem viveu nesta antiga colónia portuguesa onde existe também uma estátua sua, no Jardim de Camões, junto à Igreja de Santo António, que costumava frequentar.
PA