“Não os esqueçamos” | HS#133 | 17SET22

Há uma fotografia, uma das últimas antes de ter sido detido, que diz muito sobre a situação em que se encontra o Bispo de Matagalpa, na Nicarágua. Na foto, divulgada a 4 de Agosto, D. Rolando Álvarez está ajoelhado, no chão da rua, mais precisamente na berma do passeio, de mãos ao alto. Atrás de si, estão três agentes da polícia. Um deles, empunha uma metralhadora. O bispo está de mãos erguidas. Está a rezar, mas a imagem pode ser vista como alguém que acaba de receber voz de prisão, alguém que acaba de ser detido. E isso acabou mesmo por acontecer, 15 dias mais tarde. A meio da noite de 19 de Agosto, elementos da polícia, juntamente com forças paramilitares da Nicarágua, invadiram o edifício da Cúria Episcopal da Diocese de Matagalpa onde se encontrava o prelado juntamente com alguns sacerdotes, seminaristas e leigos. Todos estavam impedidos de se ausentarem do edifício. Mas aquilo que não se imaginava possível, aconteceu mesmo. A meio da noite de 19 de Agosto, uma sexta-feira, os agentes da polícia entraram à força no Arcebispado e levaram consigo o bispo e oito das pessoas que estavam com ele.
O Papa, o secretário-geral da ONU, os bispos de inúmeros países protestaram face a esta situação e exigiram a libertação de D. Álvarez e o respeito pela liberdade e dignidade dos Cristãos deste país do continente americano. Na origem da perseguição ao bispo, está a acusação, falsa, de que a Igreja da Nicarágua tem vindo a apoiar os opositores do Governo sandinista de Daniel Ortega. Apenas três dias depois da prisão do prelado, assinalou-se o Dia Internacional das Vítimas de Violência Religiosa. Nesse dia 22 de Agosto, a Fundação AIS alertou o mundo para o aumento, alarmante, dos ataques contra religiosos na América Latina, e muito especialmente na Nicarágua, onde, em menos de quatro anos, a Igreja sofreu mais de 190 ataques e profanações, incluindo fogo posto na Catedral de Manágua, agressões ao clero, o encerramento de meios de comunicação católicos e a expulsão das Missionárias da Caridade da Madre Teresa de Calcutá. Mas não só. Também em países como o México e a Colômbia, bem como na Argentina e no Chile, grupos extremistas procuram silenciar as vozes da Igreja e restringir a livre expressão dos crentes. A situação é muito grave e tem passado, infelizmente, ao lado das prioridades noticiosas das televisões, rádios e jornais no nosso país.
Mas se outros calam, falamos nós. Thomas Heine-Geldern, presidente internacional da Fundação AIS, lembrou que “a maior tragédia é a indiferença perante a perseguição religiosa”, e que “não podemos ficar em silêncio nesta situação”. “Não é preciso ser morto para ser vítima; basta que as liberdades básicas sejam restringidas”, disse Geldern. O que se passa na Nicarágua, infelizmente, não é caso único. No Mali, Níger, Nigéria, ou Burquina Fasso, por exemplo, os Cristãos “vivem praticamente em guetos e praticam a sua fé na clandestinidade”, acrescentou ainda Geldern. As 24 horas do dia 22 de Agosto foram muito curtas para lembrar ao mundo a situação dramática em que vivem tantas comunidades cristãs e de tantas outras religiões vítimas também da intolerância. O Bispo de Matagalpa, na Nicarágua, foi preso pela polícia, mas muitos outros conhecem igualmente os horrores da perseguição por motivos religiosos. “Não os esqueçamos”, pediu o responsável da Fundação AIS. Não esquecer as vítimas da intolerância religiosa é um dever para cada um de nós…

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