Era um homem grande, de enorme estatura, mas a sua maior grandeza estava na fé, na forma como procurava levar os outros até Deus. Mesmo quando era difícil falar em amor. Principalmente nesses momentos. O Pe. Isaac Achi morreu no domingo, dia 15 de Janeiro, de forma dramática, no meio das chamas que reduziram a escombros a residência paroquial onde vivia, em Kafin-Koro, na Diocese de Minna, na Nigéria. Morreu assassinado por homens armados que invadiram a casa, procurando talvez raptar alguém ou apenas levar algumas coisas de valor. Não se sabe ainda sequer quem atacou a casa paroquial, mas todas as hipóteses estão a ser estudadas pela polícia. Desde malfeitores que raptam pessoas procurando ganhar dinheiro com o pagamento dos resgates, até uma incursão de terroristas, talvez do Boko Haram, grupo jihadista que procura a criação de um califado no norte da Nigéria e que tem os Cristãos como um dos alvos principais. Seja quem for, bandidos ou terroristas, os autores do ataque causaram ainda ferimentos num outro sacerdote que também vivia na casa paroquial. Atingido a tiro, quando procurava fugir, o Pe. Collins Omeh conseguiu sobreviver, estando ainda no hospital em recuperação. O Pe. Isaac é que não teve essa sorte. Fechado na casa sacerdotal, não deixou entrar os assaltantes, mas não os impediu de deitarem fogo ao edifício, morrendo carbonizado. Ainda teve tempo de telefonar para as autoridades, avisando o que se estava a passar, mas quando chegaram os primeiros agentes da polícia, já o edifício estava totalmente tomado pelas chamas. A residência dos sacerdotes da paróquia de São Pedro e São Paulo ficou completamente em ruínas, “queimada até ao chão”, como explicou, em mensagem enviada à Fundação AIS pelo chanceler da diocese, Padre Amanchukwu Emeka.
Esta foi a segunda vez que o nome do Padre Isaac correu mundo. Há mais de uma década, estava a celebrar a Missa do dia de Natal, na Paróquia de Madalla, quando a igreja, dedicada a Santa Teresa, foi atacada por terroristas do Boko Haram. Pelo menos 44 pessoas morreram e muitas ficaram feridas. A brutalidade desse ataque levou o então porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, a falar num “ódio cego e absurdo”. “O atentado contra a igreja na Nigéria, precisamente no dia de Natal, manifesta infelizmente mais uma vez um ódio cego e absurdo que não tem nenhum respeito pela vida humana”, disse Lombardi, acrescentando, então, que o atentado contra uma igreja católica ali, na Nigéria, tinha como objectivo “alimentar ainda mais o ódio e a confusão”. E foi precisamente isso que o Pe. Isaac procurou evitar. Logo depois do atentado, quando os ânimos dos paroquianos estavam ainda muito exaltados, quando as pessoas viviam ainda os primeiros dias de luto, o Pe. Isaac ergueu a sua voz para falar em perdão e paz. Para lembrar que os Cristãos têm de aprender a perdoar principalmente aos que lhes querem fazer mal. “O poder da oração e do amor pode superar tudo”, disse o Pe. Achi numa das primeiras homilias logo após esse ataque, em que os jihadistas usaram um carro armadilhado para atingir a igreja. “É preciso aprender a perdoar mesmo aqueles que nos ferem deliberadamente”, disse também. Aprender a perdoar foi também o que fez o Pe. Achi dois anos mais tarde, em 2013, quando esteve sequestrado, durante algumas horas, também em Madalla. Estas palavras sobre o amor aos inimigos têm mais de uma década, mas são eternas. São uma verdadeira lição e um poderoso epitáfio do Pe. Isaac Achi, que morreu carbonizado num ataque domingo, dia 15 de Janeiro, à sua paróquia na Nigéria.