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O Futuro das Campanhas Políticas Pode Estar nos Podcasts?

Kamala e Trump

Não foi há tanto tempo assim que aconteceram as últimas eleições em Portugal, e ainda nos lembramos bem das campanhas que as precederam. Todos os candidatos a primeiro-ministro passaram pelas principais televisões, em canal aberto, e pelas maiores rádios nacionais, expondo os seus programas e debatendo as suas posições. Logo a seguir, foram minuciosamente julgados e classificados por um batalhão de jornalistas e comentadores, que atribuíram notas e lugares de pódio aos diferentes candidatos. Este artigo é sobre o futuro das campanhas políticas, que pode estar nos Podcasts.

Porque as coisas estão a mudar. Com o aproximar das eleições norte-americanas, neste ano de 2024 — que, em termos de impacto mundial, têm uma projeção muito maior do que qualquer eleição em Portugal — os meios tradicionais começam a perder terreno para novos formatos.

Novos Formatos: Do Debate Televisivo aos Podcasts

Kamala Harris e Donald Trump enfrentaram-se num debate televisivo recheado de regras, uma única vez, e não quiseram repetir a experiência. Contudo, ambos aceitaram imensos convites para participações em podcasts, alguns mais bem-sucedidos que outros, sempre com o objetivo de alcançar públicos específicos e comunicar, de formas diferentes, as suas ideias.

Assim, nesta fase final da campanha, tanto Harris como Trump colecionaram participações em podcasts. A estratégia é simples: “mobilizar o eleitorado”. Todas as aparições neste meio emergente, são direcionadas a eleitores politicamente desinteressados. Curiosamente, os anfitriões que entrevistam Harris e Trump não são jornalistas, mas sim comediantes e personalidades da internet.

Kamala Harris: Do Podcast Jovem ao Topo das Tabelas

Kamala Harris, por exemplo, apareceu no “Call Her Daddy”, um podcast de comédia dirigido a mulheres jovens. O programa, apresentado por Alex Cooper, atingiu recentemente o topo das tabelas no Spotify, sendo o número 1 na América. Durante a entrevista, Cooper centrou-se principalmente nos direitos reprodutivos, uma questão central para as eleitoras jovens. “A conversa que sei que estou qualificada para ter é sobre os corpos das mulheres e como somos tratadas e valorizadas neste país“, disse antes de receber Harris. O “Call Her Daddy” tem uma audiência 70% feminina, com 76% das ouvintes abaixo dos 36 anos.

Donald Trump: Entre Comediantes e Personalidades da Internet

De forma semelhante, Donald Trump fez aparições em vários podcasts, com anfitriões que vão desde comediantes como Theo Von e Andrew Schulz até personalidades do YouTube, como Logan Paul e os Nelk Boys — um grupo de entretenimento canadiano-americano, descrito como “as personalidades mais reconhecidas pelos jovens na América do Norte”. Trump apareceu no “Full Send Podcast”, apresentado pelos Nelk Boys, no ano passado. Esse episódio tornou-se o terceiro mais visto, apenas atrás de entrevistas com Elon Musk e Mike Tyson. Além disso, o regresso de Trump ao podcast,  já acumulava mais de um milhão de visualizações, com pouco mais de uma semana de lançamento.

A Ascensão dos Podcasts na Campanha Política

Atualmente, debate-se a possibilidade de tanto Donald Trump como Kamala Harris aceitarem convites para participar no “The Joe Rogan Experience”, o podcast mais ouvido de sempre.

As aparições nos podcasts foram, em grande parte, em meios favoráveis: Harris num podcast jovem e sex-positive, e Trump num programa com uma postura irreverente e machista. Ambos apostam na ideia de que, à medida que a política se torna uma forma de entretenimento, isso poderá resultar num aumento de apoio.

O Que o Futuro Reserva para a Política e os Media?

Mas o que isto significa para a política e os media no futuro?

Primeiro, as aparições de políticos em podcasts irão, sem dúvida, dar legitimidade aos anfitriões e figuras das redes sociais, oferecendo-lhes um nível de envolvimento inédito que poderá traduzir-se em receitas abundantes. Além disso, os podcasts podem vir a substituir os meios tradicionais, como as entrevistas televisivas convencionais, pois oferecem um espaço para um diálogo político mais acessível e cativante para um público que, à partida, não está interessado em política — e que, por isso, até nem estava a pensar votar, mas que, ao consumir este tipo de conteúdo, pode eventualmente tornar-se apoiante da causa.

A Era das Campanhas Impulsionadas por Podcasts

Os podcasts são formas de media acessíveis que os utilizadores podem consumir ao longo do dia. Quase 70 milhões de americanos relataram ter ouvido podcasts em 2023. Esse tipo de acesso dos candidatos aos eleitores é incomparável e difícil de replicar nos meios televisivos modernos.

Provavelmente, a era das campanhas impulsionadas por podcasts veio para ficar. E, muito provavelmente, os candidatos começarão a olhar para este formato de comunicação com outros olhos. Desta forma, esta poderá ser, sem dúvida, uma nova forma de fazer política.

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