Há notícias que, por vezes, escapam à nossa atenção e passam na voragem do intrépido mundo mediático dos dias de hoje. Uma dessas notícias, que a Fundação AIS deu eco, diz-nos que desde o início do ano, ou seja, há menos de seis meses, dez padres foram detidos na China.
São todos católicos, pertencem todos à mesma diocese, Baoding, e fazem todos parte da chamada Igreja Clandestina, fiel ao Papa. Quatro destes 10 sacerdotes foram presos há duas semanas, entre os dias 29 e 30 de Abril.
A notícia da Asia News, que nos alerta para esta realidade, descreve uma comunidade católica local aflita, temendo que possam vir a ocorrer mais prisões nos próximos dias, nos próximos tempos.
Mais: os cristãos de Baoding temem mesmo pela vida destes padres que, entretanto, foram detidos pois em casos anteriores, alguns dos padres e até bispos que foram sequestrados pelas autoridades acabaram por morrer.
Este caso é grave, até porque acontece numa altura em que a Santa Sé e as autoridades de Pequim assinaram em 2018 um acordo provisório para a nomeação de bispos para a China, acordo esse que foi renovado em Outubro de 2020.
E este caso leva-nos a denunciar a situação em que se encontram vários outros padres e bispos também levados pelas autoridades e sobre os quais não há qualquer informação.
Um dos casos mais graves, e que a Fundação AIS descreve no seu mais recente Relatório sobre a Liberdade religiosa no Mundo, diz respeito precisamente ao Bispo de Baoding, D. Su Zhimin.
E que se sabe sobre ele? Que já passou um total de 40 anos na prisão – repito para não pensarem que escutaram mal: passou um total de 40 anos na prisão e não é visto desde 2003, ou seja, neste momento, o seu paradeiro é desconhecido.
Tudo isto é alarmante e leva-nos a olhar para o que se passa na China com atenção. E muita preocupação.
Num país onde as autoridades exercem um controlo poderoso sobre a sociedade, onde a vigilância das pessoas é uma palavra de ordem, num país em que o poder controla o que as pessoas fazem, o que leem, o que podem ver na televisão, ou ouvir na rádio ou acompanhar na internet, num país assim, é muito preocupante saber que a repressão atinge também e fortemente a Igreja.
Mas tudo isto também nos leva a olhar para o povo chinês, para os cristãos chineses, especialmente os que pertencem à chamada igreja Clandestina com uma admiração sem fim.
É que, para eles, assumir a sua fé implica mesmo muita coragem. Uma coragem que os leva a enfrentar a prisão e às vezes até a morte.
Denunciar o que está a acontecer em Baoding e provavelmente em muitas outras regiões da China é um imperativo de consciência. Os cristãos da China merecem-nos esse respeito.
Paulo Aido