Podia ser apenas mais uma chamada telefónica. Uma das muitas que faço várias vezes todos os meses para a Síria, para o Mosteiro de São Tiago Mutilado.
Do outro lado da linha tenho sempre a irmã Maria lúcia Ferreira, mais conhecida entre nós como irmã Myri.
Do outro lado da linha escuto quase sempre uma voz preocupada de quem vê o país a desmoronar-se aos poucos, de quem vê uma população cada vez mais aflita, de quem acompanha o sofrimento das famílias incapazes de lutar contra a pobreza, sem recursos, sem alternativas, pessoas encurraladas num país que definha de dia para dia.
Desta vez, a irmã Myri contou uma muito má notícia. A expressão é dela. A muito má notícia, conhecida no início deste mês de Fevereiro, diz que o governo de Damasco deixou de subsidiar o preço de grande parte dos bens de primeira necessidade, expondo, dessa forma, grande parte da população da Síria a uma pobreza ainda mais acentuada.
Os produtos que o governo deixou ou vai deixar de subsidiar são o pão, o arroz, o açúcar… mas a má notícia é que vai deixar de haver apoio também para a compra de combustíveis, o famoso mazout [usado para aquecimento doméstico], o gás, a gasolina, o gasóleo…
O preço do pão, disse-me a irmã Myri, passou já, em pouco tempo, de 250 libras [cerca de 0,08 cêntimos] para 1500 libras, ou seja, cerca de 52 cêntimos.
O resultado está a ser dramático. Se antes as pessoas se acotovelavam nas filas, apesar das senhas, para conseguirem adquirir pão para as necessidades do dia-a-dia, agora, relata a irmã, sobra pão pois a esmagadora maioria da população não tem dinheiro suficiente para o adquirir.
Exemplo também da enorme precariedade em que vivem as populações, foi o facto de, neste Inverno, que se revelou particularmente frio, muitas pessoas, face à impossibilidade de adquirirem combustível para o aquecimento das suas casas, terem chegado a queimar roupa mais usada e calçado, sapatos e botas mais gastas, num gesto que não precisa de ser sequer adjectivado.
Face a esta situação, face ao drama que atinge já tantas famílias da Síria, vítimas de uma década de guerra mas também das sanções impostas ao regime de Damasco, a irmã Myri pediu a nossa solidariedade. Pediu a nossa solidariedade através das nossas orações.
Eu transcrevi a parte final da conversa para ser fiel às palavras da irmã Myri, ao apelo que nos deixou da última vez que falámos ao telefone. Disse ela: “A vida está a tornar-se muito, muito, muito difícil aqui na Síria. Os preços aumentam e as pessoas não conseguem… não vão conseguir ter o que comer. Rezai, rezai por nós, é o que vos peço. Rezai por nós para que o Senhor oiça esta situação aqui na Síria, no Líbano, em toda a Terra Santa onde os cristãos já não estão a conseguir viver.”
Hoje, quando rezar, lembre-se também da Síria, lembre-se das palavras da irmã Myri. E se puder ajudar, contacte com a Fundação AIS. O nosso telefone é um pronto-socorro para quem está aflito. Ligue-nos para o 217544000 e diga que quer ajudar a irmã Myri, que quer ajudar os cristãos da Síria. Obrigado.
Paulo Aido